quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

River of no return: Filme desprezado pelo diretor e pela atriz. Feito sob encomenda para o estúdio. Tanto que os reshoots foram dirigidos pelo Jean Negulesco, não pelo Preminger. Poderia ter sido, se não um fiasco, um filme de má vontade. O que impressiona é que nada disso surge no filme (eu não saberia, só pelo filme, dessa história, tive que a pescar no Imdb). O que aparece no filme é uma coerência imensa entre locação, o rio, e a direção da história, algo parecido com "A terceira margem do rio": o filme é aquele rio, cada plano, cada cena, tornando a anterior um ponto distante, forçando os personagens a continuar apesar de tudo. O núcleo familiar é muito forte, a tensão entre o Robert Mitchum e a Marylin Monroe tendo um tempo gradual para crescer e se desenvolver, começando a dar espaço para uma solidariedade (ainda que vinda das condições inóspitas que tem eles tem que vencer para chegar a cidade) e com o filho de Mitchum entre eles para dar uma aliviada nessa tensão. 

Talvez possa funcionar como uma planta baixa do cinema do Preminger (algo como Monkey business sendo uma planta baixa do cinema de Hawks): não é seu melhor filme (fico ainda entre Laura, Where the sidewalk ends, Angel face ou Anatomy of a murder), mas é um filme que demonstra claramente a força do cinema de Preminger: clareza no registro, precisão da mise en scéne, e um profundo respeito pelo trabalho dos atores no plano. O olhar que a Marylin dá ao Mitchum antes dela entrar no saloon para confrontar seu namorado canalha (na hora em que ele aparece pela primeira vez no filme já dá para ver que é um canalha) é incrível, evidência de seu talento como atriz. Incrível também como ele resolve a situação entre o filho e o pai com o tiro, aquele tiro, que o Mitchum estava ensinando para o filho no início do filme:

"All right, now, what's important?"
"To hit the target."
"When?"
"The first shot"
"Why?"
"Because I might not get another."

Me parece uma exposição da estética de Preminger.

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