terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Emplasto Brás Cubas

Das atitudes mais estúpidas que se pode haver acerca do cinema — e certamente sintomático do nosso tempo, não apenas o processo de imbecilização geral promovida pela máquina comercial (e que não envolve somente Hollywood), nem a vitória da cultura institucionalizada (aquela que somente ocorre aonde há permissão para que o faça), mas o quase que completo desaparecimento de qualquer forma minimamente coerente de se encarar de frente a coisa chamada cinema (para ficar com um só exemplo de dentro do estado de sítio da cultura) — os videos de reação ao trailer de filme X ou Y servem como corolário da torpeza geral que se instalou. É uma forma de resposta que, em lugar de um juízo, seja ele da forma que for, por via da crítica [1], dos afetos, da razão, etc, se dá como fato social. Mas aqui a coerção é uma que ocorre na chave da solidariedade — o coagido se compraz em ser uma viga de sustentação na estrutura; pode-se sugerir que ele se sentiria deslocado, taciturno, se não o fizesse, que se sentiria deixado para trás, abandonado pela estrutura que julga estar ao seu serviço — quando o que faz é desempenhar um papel para o qual foi programado incessantemente pelo aparato publicitário. Tal efeito é testemunha da engenhosidade dessa máquina. Seria isso dizer o óbvio? 

[1] Que se lembre que Crítica vem da “arte de discernir”.

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