terça-feira, 7 de julho de 2015


Não se estranha que Charlie tenha uma vida tão boa, uma bela mulher, um bom emprego aonde é respeitado. Não se estranha que a mesma bela mulher o largue por um chofer negro e anão (comédia também é criar tipos pitorescos). Estranha-se que esse anão negro seja na verdade um cientista em pesquisa de campo. Não se estranha, portanto, que os filhos dessa bela mulher sejam trigêmios do anão negro, nem que essa bela mulher irá abandonar Charlie. Não se estranha que sejam os trigêmios desbocados, irônicos, falem palavrões, gíria, etc. Estranha-se que esses trigêmios negros sejam gênios da física.


E por que não o poderiam ser? É aí que entra o gênio dos Farrelly: por que haveria o mundo de se organizar e se submeter à nosso olhar viciado? Eles compram a briga, não por fugir do esteriótipo (o que pode criar novos esteriótipos) mas, justamente, por insistir nele.


Porque nos seus melhores filmes os Farrelly não criam tipos bizarros para que se ria deles mas sim para que se revele a boçalidade em qualquer esfera econômica e social e de poder; sua máxima é aquela que Borges divisou para Melville “Basta que um homem seja louco para que o universo inteiro o seja”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário