quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O dia dos independentes

Manny Farber


A principal tendência acontecendo hoje em Hollywood é na direção da formação de empresas independentes de cinema que podem ter a expectativa de algum dia fazer filmes apreciadamente menos covardes e comercializados do que os atuais produtos dos grandes estúdios. Pelo menos uma dúzia dessas companhias foram formadas nos últimos dois anos, mas são independentes pela metade, porque muitos deles são parcialmente financiados pelos grandes estúdios e todos eles tem que distribuir seus filmes pelas franquias dos grandes estúdios. Os nomes e donos de alguns destes novos estúdios são: California Pictures (Preston Sturges e Howard Hughes), International Pictures (William Goetz e Leo Spitz), William Cagney Pictures (os irmãos Cagney), Vanguard Films (Selznick), e outros, chefiados por Bing Crosby, Sam Wood, Monter e Ripley, Hal Wallis, etc. A razão pela qual eles foram formados, fala-se, é para permitir que seus donos cortem o imposto em cima de seus ganhos: ao formarem suas próprias empresas, essas pessoas podem fazer menos filmes por ano, pagando salários semanais nominais, e registrar sua declaração do imposto de renda com base nos ganhos financeiros. De acordo com as regras da Receita Federal, é permitida uma maior retenção de lucros nesses ganhos do que dos salários e taxas. Essa pode, ou não, ser a razão por trás dessas novas empresas, mas muitas dessas pessoas são técnicos talentosos, inteligentes e sensíveis, e eles devem querer, também, fazer filmes mais importantes do que os produtos dos grandes estúdios. 

Essa tendência não é levada muito a sério pelos grandes estúdios, já que coisa similar apareceu durante a Primeira Guerra Mundial e não levou a lugar algum; e uma vez que eles detém a distribuição numa camisa-de-força, eles não irão distribuir filmes que fazem os deles parecerem inadequados. Mas uma ou duas essas empresas — por exemplo, International Pictures, que tem Nunnally Johnson, Casey Robinson e Gary Cooper sob contrato, e um sucesso de bilheteria, Casanova Brown, para começar, e a empresa de Sturges e Hughes, a qual é improvável, tendo em vista os filmes passados de Sturges, que faça filmes fracassados — provavelmente conseguirão tornar-se companhias independentes, com sua própria rede de distribuição, fazendo filmes que poderão causar surpresa e preocupações aos grandes estúdios. 

Uma vez que muitas dessas pessoas desses novos grupos já estavam preocupados em fazer filmes melhores que a média, eles provavelmente farão filmes ainda melhores por conta própria, Mas eu duvido que eles farão filmes que são francamente originais em seus estilos ou independentes em suas ideias, principalmente porque são todos criados em Hollywood ou, tão importante quanto, estão trabalhando em Hollywood: há muitas coisas sobre aquele lugar que contribui para um certo tipo de filme, no modo em que um clima frio contribui para certos tipos de animais. Coloque uma pessoa produzindo filmes em Hollywood, e ele invariavelmente começará a pensar em termos de peças filmadas em vez de filmes, em arte ser separada de entretenimento, e então não algo para ele, e em não fazer um filme que irá mudar pensamentos ou sentimentos. Eu sugiro esses independentes irem para qualquer outro lugar dos Estados Unidos para fazerem seus filmes. Meu pessimismo sobre o que eles podem fazer em Hollywood é instigado pelos filmes que foram feitos até agora por eles: Casanova Brown, Lady of Burlesque, Johnny come lately, Flesh and fantasy, os quais são tão pouco diferentes da média de Hollywood que não importa em quais condições eles foram filmados. O único filme muito diferente que eles fizeram, The voice in the wind, de Monter e Ripley, é uma versão de 1928 do tipo de filme que é feito hoje, misturado com boas intenções e influências do que há de pior nos filmes Europeus de “arte”.

A outra tendência de Hollywood — a de fazer filmes cada vez mais longos — pode não ser tão importante quanto a explosão de produtores semi-independentes, mas já resultou em filmes mais cansativos do que precisavam ser, e ameaça fazer outras coisas, como substituir os programas duplos por filmes tão longos como dois. Foram feitos nesse ano setenta filmes que tem duração de, pelo menos, uma hora e quarenta minutos; vinte e sete que duram duas horas, e seis — Dragon seed, Since you went away, Frenchmen’s creek, An american romance, Wilson e Mr. Skeffington — que tem uma média de duas horas e quarenta, e custou pelo menos $3.500.000 cada um para serem produzidos. A principal razão de alarme sobre esse aumento é que pode causar produtores a cortar suas produções de filmes baratos, que sempre foi o ponto de entrada mais provável para gente nova, o lugar mais provável de se encontrar técnicas e assuntos não convencionais, e coisas de modo geral mais relaxadas e humanas. As pessoas do cinema dizem que toda essa tendência é um fenômeno temporário, e que a demanda por filmes baratos — e programas duplos — pelo público é grande demais para parar com a produção de filmes B. De qualquer modo, Hollywood parece cada vez mais ser da opinião de que um grande filme não pode ser feito por menos de um milhão de dólares ou ter menos de uma hora e meia, e uma vez que ela se acostuma a essa ideia, você poderá geralmente esperar um filme mais acadêmico e conservador. 


New Republic, 28 de agosto de 1944


Tradução de Gustavo Salvalágio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário