segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Mulheres lideram mudanças nas comunidades rurais

Djibril Iero Mandjam





A Guiné-Bissau é um pequeno país com geografia de 36.125 quilômetros², situada na costa ocidental da África, divide fronteira a Norte Com Senegal e a Leste e Sul com Republica de Guine-Conacri. Com oito regiões administrativas e sector autônomo de Bissau (capital do país), tem uma população de cerca de dois (2) milhões de pessoas, cuja maioria é de mulheres. 

É essa franja da sociedade que dá sentido à vida nas famílias, comunidades rurais e nos centros urbanos. As chamadas mulheres valentes ou combatentes desempenham dupla função nas moranças. A função da mãe e do pai ao mesmo tempo: é uma questão cultural em várias situações, mas geralmente tem haver mais com a capacidade criativa e a dinâmica empreendedora que caracteriza mulheres que vivem nos meios rurais.  

De madrugada com o alerta do primeiro cantar de galo até o pôr do sol, elas vão corajosamente ocupando-se de uma lista infindável de afazeres domésticos e trabalhos no campo agrícola (transplante, colheita e transporte de arroz das bolanhas), nas hortas, na pesca de subsistência, além do comércio que é uma rotina cotidiana do sustento de famílias nas tabancas – pequenas vilas agrícolas. Com base nos saberes e práticas produtivas tradicionais, as mulheres compreendem melhor que muitos homens o enorme potencial que as terras guineenses dispõem para suficientemente alimentar a sua população e gerar rendimentos econômicos e culturais. As mulheres que vivem em zonas rurais são sem dúvidas verdadeiras protagonistas da economia familiar e da mudança social nas comunidades. 

Um exemplo: Lucia Gomes de 41 anos de idade. Ela é a responsável por uma horta comunitária que mede quase 1 hectare. Todos os perímetros deste vasto campo coletivo de produção agrícola são aproveitados com a cultura de diferentes variedades de hortaliças, que não só servem para consumo de toda família da comunidade, mas em grande parte ajudam no abastecimento dos mercados de centros urbanos.

Outro exemplo. Cadi Indjai, 49 anos, sustenta uma família de 17 membros, com o seu trabalho de campo associado a pequenos negócios de produtos alimentares. Com isso, ela consegue pagar escola para os filhos, comprar roupas e cuidar de tudo para manter a dignidade da família. 

Em minha última visita ao mercado público municipal de São Domingo, escutei a seguinte afirmação da senhora Fatu Manga que é vendedora de peixes: todos os dias em que levanto de madrugada penso nos meus filhos, respiro fundo e tomo coragem, quero dar uma vida melhor para eles.

As mulheres que trabalham na extração de ostra, na produção de sal, nas bolanhas de arroz, na fileira hortícola, na extração de óleo de palma, no comércio informal e em vários outros setores exercem corajosamente um papel basilar na economia familiar das comunidades rurais. A todas elas uma singela homenagem pela luta diária que de forma orgulhosa assumem em todas as frentes para garantir a comida na mesa da família.



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Fragmentos


 
























Filme ganhador do edital #SCulturaemSuaCasa, apresenta um olhar sobre a serra catarinense que não é muito comum, revela que a região aposta em um distanciamento com o resto do mundo, tudo para manter seu estilo de vida.

Sinopse: Fragmentos é a tentativa de elaboração de uma montagem cinematográfica baseada no bruto. As imagens sem tratamento ou com quase nenhuma alteração são reunidas dentro de um espaço-tempo, procedimento caracterizado pelo arranjo cinematográfico que privilegia as relações entre imagens e sons; sem ambição de criar uma narrativa homogênea Fragmentos é um conjunto de imagens feitas durante uma tarde de domingo na serra catarinense. Primeiro vem o sol, depois a chuva, o aeroporto deserto é a mimese de uma região que mantém seu estado de ser, costumeiramente, apostando na distância com o resto do mundo.



segunda-feira, 11 de maio de 2020

Os Maconheiros

Compartilho aqui meu TCC, visto que não há mais motivo para ocultá-lo, depois de três anos que o realizamos. Deixo aqui também meu carinho e admiração por todos que ajudaram esse curta a sair



terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Vidas descartáveis

Texto de Marcelo Ribeiro Filho

Imagens de Igor Pessoa


Estrangeiros em sua própria terra, os sem-teto carregam a dor de serem figuras estranhas e indesejáveis nas sociedades em que existem. Eles percorrem as ruas compondo um movimento fantasmagórico e anônimo dentro de uma estrutura que pressupõe que o desaparecimento ou a morte dessas figuras é completamente indiferente. Eles carregam em seu próprio semblante algo que é quase esquecido nas sociedades midiáticas, o fugaz da existência e o veredicto de que o momento não permanece.

Pensar na condição dessas pessoas, neste caso, requer uma postura que assuma o discurso como proveniente de fora; o relato é um movimento externo, baseado muito mais na experiência de atrito de pesquisas e sessões do que em um relato de alguém que vive a condição de rua. Uma profundidade ou texto melhor exigiria muito mais tempo para incorporar e amadurecer a pesquisa, e não o que temos aqui, apresentamos uma reflexão rápida (com base em 6 meses de trabalho). Rápido, não significa inválido ou desnecessário, pelo contrário, nas fotografias você pode encontrar um retrato firme e rigoroso do contemporâneo no Brasil.

Atualmente, o país está passando por uma recessão econômica e um período de intensa divisão ideológica na sociedade. É inegável que a crise brasileira agravou o que já era sério, os sem-teto estão entre os menos importantes, não por funcionários de entidades governamentais sérios ou ONGs que continuam fazendo seu trabalho, mas por grande parte da população. É possível afirmar, sem medo de erro, que a crise no Brasil aumentou, entre outras coisas, a indiferença e a raiva social. Basta andar na rua ou ler algo na rede para perceber que o brasileiro vê o brasileiro como um adversário. Atualmente, os sem-teto são considerados despolitizados ou portadores de vontades inferiores, de modo que o contexto atual os coloca fora das prioridades.

A produção dessa série de imagens exigia que o fotógrafo visse o contrário, fugindo da sistematização ou das fórmulas de trabalho. Era necessário abordar a aparente inconsistência dos sem-teto, para entender que a lógica que é colocada na ética deles é diferente e não é guiada pela homogeneidade. A realização das fotos aconteceu dentro do inesperado, a tentativa deve exceder as expectativas, o caráter fragmentário da imagem ajudou. Desde o início, ficou claro que as fotografias produzidas estariam muito distantes da mídia clássica, que assume a fotografia como um agente do infinito. Pelo contrário, essas imagens representam o transitório, talvez, o único documento de seres humanos que amanhã não estarão mais lá.

O paradoxo é que, no momento em que criamos algo atento a uma característica tão importante como a relação com a temporalidade dos personagens, a imagem tende a ter esse rosto. A coleta de imagens apresentadas nesta breve introdução lida com eventos e vidas que provavelmente serão vividos intensa e rapidamente, mas as marcas que essas vidas deixarão em qualquer história secular da humanidade são inegáveis.









quarta-feira, 7 de março de 2018

Eu não tenho nenhum interesse em Charles Spencer Chaplin. O pequerrucho homem atrás das cameras é nada. Existiu, em algum ponto histórico. O que me interessa, o que movimentou o mundo foram os metros de película que esse homem gastou. Se era grande, se era mesquinho, se era nobre, se era tolo, não sei. Não sei se tenho interesse nisso. Sei disso, isso sim: a invenção está mais do que viva em filme. Existiu essa criatura fantástica, que habitou todos os seres humanos em algum ponto: o homem que insiste em ter dignidade em momentos em que era impossível tê-la. E é isso que importa. A dignidade.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O dragão da maldade contra o santo guerreiro

Texto do amigo Marcelo Ribeiro:

Esse filme pode ser considerado uma saída para uma criação dramatúrgica mais coesa e menos ingênua se compararmos com as obras anteriores do diretor. É óbvio que deve-se respeitar a realidade histórica e não criar maquinações de mais nas comparações, porém, não acho essa afirmação exagerada. É a analise da realidade histórica passada que faz com que Glauber crie um cinema mais analítico e direto nas imagens. 

A narrativa não tende ao discurso revolucionário fechado. Os personagens caminham na primeira divisão (até a morte do cangaceiro) do filme em uma direção supostamente didática, só que depois dessa virada, Antonio das Mortes que pelo discurso e postura demonstra que já vinha pensando sobre seu papel descamba para o messianismo, mas não é o messianismo dos primeiros filmes, heroico. É um messianismo sem lugar, assim como o filme que busca cruzar as mais opostas visões políticas em um realidade histórica que constata que nenhuma delas tem perspectivas reais de mudança. Mais do que isso, a realidade onde os amores foram perdidos é trocados pela erudição de alguns poucos, o mesmo que nada para alguém como Antonio das Mortes que busca o rival e encontra seres despolitizados pela barbárie cotidiana da política.

Disso fica claro que nesse filme existe uma tentativa de amenizar alguns estragos ideológicos que envelheceram mal nas outras obras. Contudo, não é um filmes de correções é um filme de revisão, um mecanismo consciente que busca respeitar a memória da visão anterior e ao mesmo tempo evitar o romantismo. 

Percebo que Antonio das Mortes realmente sente pena dos beatos, Glauber quis assim. Não terminou a luta como havia pensando, agora tem que lidar com a imagem do messias em si mesmo, incorpora uma mistura de compaixão e remorso. Ao seu lado o professor que não crê que existam lutas igualmente importantes tece uma espécie de discurso sobre o filme, quase um comentador do que acontece na tela.

Glauber se relaciona ativamente com a nova realidade histórica que lhe esperava, soube tecer em o “Dragão da maldade” coisas inimagináveis em seus três primeiros longas. Recoloca ambiguidade aonde o discurso pronto não permitia, por exemplo, na cena onde o coronel e os jagunços vão atrás de Antonio das Mortes, o Coronel diz algo como “se Deus vai ajudar um criminoso, vai me ajudar porque derramei menos sangue do que você”. O que isso quer dizer? É claramente a erupção de um novo tipo de personagem (é possível classificar como antagonista) que ao longo dos filmes da década de setenta e de “Idade da Terra” se desenha como alguém em aberto moralmente; com certeza um agente do poder e praticante de seus benefícios, porém não muito distante eticamente do protagonista. O filme lida com a diferença que separa o Coronel de Antonio das Mortes. Questão central para Glauber depois do 1969: qual o discurso possível para eles depois de tantas semelhanças?O filme não responde. Por situações como essa acredito que Glauber tenha contribuído para um cinema menos óbvio.