Schwarzenegger é um policial, isto é, um trabalhador, num futuro fascista, injustamente acusado de matar inocentes pilhando lojas por comida (deu-se o oposto, ele negou-se a matar e serviu de bode espiatório para a matança institucionalizada).
Depois é só tempo de procurar uma fuga dos trabalhos forçados. Há uma coleira que comicamente explode a cabeça dos trabalhadores que buscam escapar. Há a mulher burguesa que trabalha no programa de televisão que dá nome ao filme e que trai o Schwarzenegger pelo sistema e pelo sistema é traída, indo juntar-se a ele no programa letal.
O que há de interesse é uma inteligência particular que parece ter abandonado os filmes populares americanos (que talvez seja do próprio Schwarzenegger, que já havia trabalhado então com o Milius , o McTiernan e o Cameron). A ação explosiva é a pedra de toque que sustenta a crítica (meio marginal, é certo) contra a televisão e cultura em geral. O filme é um golpe contra a cultura oficial é tóxica da classe média: a personagem da classe média que nos parece simpática é rapidamente cooptada pelos revolucionários. É a televisão que alimenta a mentira, mas é dela que os revolucionários do filme fazem uso para divulgar a torpeza da mídia. Nisso é um filme bastante inteligente, como costuma acontecer com as adaptações do mau escritor Stephen King, quando se procede com inteligência (De Palma, Carpenter, Darabont, Cronemberg, etc.).
É fato que a ação no filme é meio desconjuntada (seria melhor ter contado com alguém como o Verhoeven). Mas o filme tira isso de letra com um senso de humor brincalhão e algo ingênuo. Basta a alegria destruidora do Schwarzenegger no filme — que é a alegria de quem está criando algo, de quem está na liderança do novo.
Alegria bem oposta ao que se vem feito hoje: uma página no facebook chamada berlin-artparasites, que é a última palavra no que há de mais baixo, de mais ressentido, de mais alienado e medroso, de perfumaria na tentativa de se fazer arte. Dessas empreitadas a primeira a pular fora do barco é a própria arte.